terça-feira, 30 de junho de 2009

Encontro (versão extendida)

Eles foram convidados para uma festa na casa de amigos. Seria um destas reuniões cheias de gente, muitas das quais eles nem conheciam, mas que costumavam ser bem animadas. Resolveram ir, apesar da leve dor de cabeça que ela sentia. Rapidamente ele se arrumara sem muito cuidado. Ela havia decidido a se fazer bonita, não sabia bem o porquê. Escolheu seu vestido preto decotado, meias ¾ de seda preta e, para contrastar, uma calcinha vermelha de renda italiana.
Antes das nove horas, eles já estavam na casa de seus anfitriões. Sentaram se na varanda com alguns amigos. Muita conversa entre copos de uísque e martini. Alguém chegou a perguntar se ele não sentia ciúmes da beleza ameaçadora de sua mulher, que naquela noite ainda estava mais realçada pela bela roupa que usava. Na verdade, a intenção era perguntar como ele deixava sua esposa sair vestida de forma tão provocante e sensual de maneira a despertar a libido dos que estavam ao redor. Certas coisas não são ditas às claras por elegância social. Ela começava a se enfadar dos assuntos tratados naquela roda. Resolver andar por aí. Passeou pelo jardim atraindo os olhares de cobiça dos homens e o de inveja das mulheres. Entrou na casa. Ansiava por algo que afastasse seu tédio. Aconteceu. O primeiro contato entre eles ocorreu no corredor que liga a sala aos compartimentos internos da casa. Ela andava distraída, ele olhava fixamente para a tatuagem em seu ombro. Propositalmente ele esbarrou lentamente nela. Queria sentir seu perfume. Aguçou o tato para sentir o bico de seu seio que roçou demoradamente por seu braço. De forma dissimulada, ele tocou sua perna com a parte de fora da mão. Imediatamente, um calafrio lhe tirou de seu estado de distração. Continuou a andar e ao final do corredor arriscou olhar pra trás para ver quem havia provocado nela aquela sensação. Na outra ponta do corredor, seu sorriso já esperava por ela. Meio sem jeito, ela continuou a andar e voltou para a varanda. Pela janela ela podia ver que aquele estranho a observava. Naquele instante, ela se sentiu despida e isto lhe dava prazer. Pensamentos obscenos percorriam sua cabeça um após o outro. Imaginava que sensações poderiam ser produzidas por aquelas mãos e aquela boca. Começou a sentir um certo desconforto. Achava que as pessoas que a rodeavam poderiam sentir o cheiro que, acreditava, exalava entre suas pernas. Procurou sair rapidamente dali. Arrodeou a casa por fora. Ao chegar na parte de trás da casa, uma mão puxou a pelo braço. Quando percebeu havia sido levada para um quarto que servia como depósito de coisas velhas. Nenhuma palavra foi dita. Suas línguas se buscavam vigorosamente. Com firmeza, ele afastou as alças de seu vestido desnudando seus seios que imediatamente foram consumidos por uma boca descontrolada. Sua calcinha de renda vermelha já estava em seus pés. Ele olhava para os poucos pêlos castanhos de sua buceta como se contemplasse uma imagem sagrada. Beijou seu sexo com a mesma ternura que beijaria o rosto de sua mãe. Quando seus dedos já entravam em sua vagina, alguém abre a porta e a fecha imediatamente. Isto foi o suficiente para que eles saíssem daquele transe erótico. Ela se refez. Ajeitou o vestido. Só não vestiu calcinha porque esta havia sido rasgada em duas partes. Voltou para onde seu esposo estava. Tomou mais alguns martinis e reclamou da dor de cabeça que voltava com mais força. Foram pra casa. Lá, eles treparam enlouquecidamente. Nunca ela gozara com tanta intensidade. Nesta e nas noites da semana que se seguiu, seu marido emprestou seu corpo para que sua esposa pudesse imaginar completar o que havia iniciado com o desconhecido. Os melhores gozos de sua vida.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Levo comigo.

"...Levo comigo o gosto do vinho na boca. (Por todas as coisas boas, dizíamos, todas as coisas cada vez melhores que nos vão acontecer.)

Não levo uma única gota de veneno. Levo os beijos de quando você partia (eu nunca estava dormindo, nunca). E um assombro por tudo isso que nenhuma carta, nenhuma explicação, podem dizer a ninguém o que foi."

Sempre que penso nas coisas boas que foram construídas nas diversas vezes em que amei, lembro-me deste texto do Galeano. Um daqueles textos que eu gostaria de ter escrito. É isto que quero trazer comigo de todas as minhas paixões: a lembrança, as marcas de tudo aquilo que nos fez rir juntos. As mágoas, quero deixá-las pelo caminho. Meu coração não tem espaço nem força suficiente para carregar peso desnecessário. É preciso que tudo esteja arrumado e aconchegante para receber os amores que virão.

sábado, 27 de junho de 2009

Ninguém sai impune.

Ninguém sai impune de uma paixão. Muitos são os riscos, muitas as dores e muitos os gozos. Eu trago comigo todas as marcas de todas as paixões vividas. Às noites, eu costumo lamber as feridas abertas e acariciar as cicatrizadas.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Cuidado com o que se deseja

Ele adorava as músicas do Roberto Carlos, principalmente as dos anos 70. Achava que para apreciá-las como se devia, seria necessário estar sofrendo de amor. Por duas ocasiões ele desejou apreciá-las como se devia. Por duas vezes ele desejou sofrer. Por duas vezes ele se arrependeu amargamente. Por duas vezes...

Encontro (versão compacta)

Os primeiros olhares aconteceram no corredor da casa. Seus corpos se encontraram. O bico de seu seio roçou no braço dele e sua mão tocou delicadamente sua perna por sobre o vestido preto. Exatamente como acontecem nos esbarrões acidentais. Após isto, eles se olharam à distância. Ela estava incontrolavelmente excitada. O próximo encontro foi nos fundos da casa. Entraram em um quarto. Não disseram uma palavra. Seus corpos se expressavam da melhor forma que lhes cabia naquele momento. Ele afastou as alças de seu vestido deixando seus seios à mostra. Mordeu cada um deles até que ela soltasse gemidos de dor e prazer. Arrancou sua calcinha de renda vermelha com uma das mãos. Levantou seu vestido e contemplou os poucos pêlos castanhos de sua buceta. Um beijo terno no seu sexo antecipara os dedos que entravam em sua vagina. Alguém abre e fecha a porta rapidamente. O bastante para interrompê-los. Vestiram se e cada um voltou para onde estava. Ela falou ao marido, que ainda a esperava na varanda, que queria voltar para casa. Em seu quarto, eles treparam como nunca haviam feito. Ela chegou a gritar ao gozar. Nesta e nas noites da semana que se seguiu, seu marido emprestou seu corpo para que sua esposa pudesse imaginar completar o que havia iniciado com o desconhecido. Os melhores gozos de sua vida.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Moça triste.

Ela abrira a gaveta da cozinha em busca de um sacarolhas. Suas mãos trêmulas percorriam rapidamente cada recanto da gaveta. Encontravam tudo, menos o maldito sacarolhas. Ao passar seus dedos pela lâmina de uma faca, seus olhos fecharam e suas ideias voaram. A imagem do vermelho gotejante lhe fez lembrar de seu objetivo ali, naquele momento. Com o sacarolhas na mão, ela abriu a dispensa em busca do Porto. Merda – gritou ela mentalmente. Alguém já abrira seu preferido. Restava-lhe a garrafa de Bourgogne. Não era de seu gosto, mas naquele momento, o teor alcoólico era a única coisa relevante. Refugiou-se nos quartos dos fundos. Além da garrafa e do copo, somente os fones em seus ouvidos eram testemunhas de sua aflição. Pensava em todas as coisas que poderiam ter sido. Em todos os amores que nem teve a chance de conhecer. Em todas as possibilidades de felicidade passadas e futuras. A garrafa secava, inicialmente de forma célere para, em seguida ter cada um de seus copos a lenta e inebriante degustação merecida. Entre cada gole, ela segurava o copo em frentes aos seus olhos e observava o vermelho do líquido e imaginava todos os gozos não tidos e para cada um deles, uma lágrima era vertida. Não demorou muito, sua maquilagem já havia sido levada. Seu rosto borrado ainda lhe dava um ar mais triste, de uma melancolia quase mórbida que só se vê naqueles que tiveram suas almas enlevadas pelo mais rústico dos fórceps.
“...Que je ne sais plus qui je suis
Je t'aime tant,
Je t'aime tant, pourtant ...”
Últimas frases escutadas através de seus fones quando seu ritual semanal foi interrompido por uma voz que vinha de fora:
-Meu bem, não vens te deitar?
-Vou já, querido.

Ela enxugou suas lágrimas, caminhou firmemente para não revelar sua embriaguez evidente e entrou em casa para viver sua felicidade pasteurizada.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Poema do fim


“Não foi a brisa da manhã que me disse
Nem a porta displicentemente esquecida aberta
Mas sim o silêncio inquietante
Provocado nessa tua ausência
Falando que você partiu
E não mentiu!
Quando certo dia contou-me
Que seu amor é assim
Não cria raízes
Vai ficando
Até o dia
Do não querer mais... ”


Guardei este poema para o dia em que partirias. Mas tu nunca me deixaste de verdade. Tu sempre voltavas. Mesmo quando não te queria mais, tu estavas lá. E tu sabes me dobrar. E cada vez que não te queria, acabava te desejando enlouquecidamente mais e mais. Tua vida tomou outro rumo, longe da minha. Acostumei-me a ter-te a distância, ao sabor das janelas que piscam na tela. Ditadura da tecnologia que não me deixa mais que me afaste de ti. Agora que estás longe é quando mais te quero. Na paixão idealizamos o objeto de nosso desejo, então o que dizer agora que não te vejo mais? Até tua imagem pode ser do jeito que eu imaginar. E nas janelas que piscam, tu continuas a ser a mais bela, a que tem a voz mais doce, enfim...


Com o tempo, cultivei outras paixões, larguei-te um pouco. Esforço vão de te encontrar em formatos diferentes. Apaixonei-me mil vezes e mil vezes não te encontrei. Agora, não te encontro nem quando te busco. Não foste embora, mas não mais as janelas piscam e este silêncio é mais castigante do que o do poema que escolhi para o dia em que partirias. E continuas lá e em silêncio. A pior das ausências.


segunda-feira, 22 de junho de 2009

Seu sonho de consumo.

Nenhuma visão poderia ser mais fantástica pra ele do que a imagem dela nua em pêlo, cabelos cuidadosamente arrumados, lápis preto nos olhos, batom maravilhosamente vermelho na boca, esmalte preto nas unhas e calçando um encarnado salto alto com ponta de agulha que lhe deixava na carne as marcas de suas indas e vindas de seu desfile erótico tendo ele como passarela.

domingo, 21 de junho de 2009

Amor casual

Era só mais uma saída entre amigos. Quinta era o dia dos caranguejos. Ela adorava este ritual. Para ele tanto fazia. Queria estar em sua companhia. A conversa era boa e ela tinha pernas bonitas e um jeito sensual. Seus seios levemente caídos também despertavam nele pensamentos eróticos. Mas eles estava ali para celebrar o prazer de rir a dois e assim o fizeram. Porém, em ambos havia um querer mais. Ele a deixou em sua casa. Veio a vontade de tomar a última cerveja. Poderia ser no bar da esquina, mas ele insistiu que seria melhor na sala que estava logo ali ao lado. Ela não aceitou logo de cara, mas na verdade preferia a sala também. Entraram e enquanto ela pegava a cerveja e os copos, ele ligava seu parelho de música. Várias eram as opções, mas Roberto Carlos parecia ser a mais apropriada. Sentaram-se no chão, um de frente para o outro. Apesar de estar usando uma minisaia, ela achava mais confortável sentar com as pernas afastadas. A penumbra encobriria sua intimidade. As cervejas e as músicas se sucediam. Os risos, agora, eram acompanhados de abraços e cabeças nos ombros. Ao som de “Eu te Proponho” seus lábios se encontraram pela primeira vez. Ela hesitou e, afastando-se dele, perguntou se achava que aquilo seria correto. Sua resposta veio em forma de um beijo que percorreu o interior de suas cochas. Ela ainda argumentava algo enquanto, com as mãos, tentava manter sua cabeça à distância. Muito tarde, sua calcinha, que a penumbra não conseguira esconder, já estava no centro da sala e os lábios de seu sexo entre os lábios dele. Seus corpos estavam nus como que querendo coreografar a música que naquele momento invadia o quarto: “... Usar meus beijos como açoite E a minha mão mais atrevida...”. Amaram-se até que o suor de seus corpos encharcou suas almas. Gritos, arranhões, coisas absurdas foram ditas. Cansados, eles se vestiram, enxugaram a testa e foram até o portão. Lá, se despediram como amigos que eram: um beijo em cada face. Nada mais fora dito.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Punhais

Ele estava diferente - pensativo, calado, olhar perdido. Lábios secos, sabor amargo na língua. O oposto de minutos antes. Entrou pela porta da sala e foi direto à cozinha. Não deixara suas coisas no gabinete como de costume. Pegou uma cerveja na geladeira. Caiu sobre o sofá largando sua pasta no meio da sala. As imagens da TV atravessavam seus olhos, mas suas retinas não eram sensibilizadas. Muito menos seus tímpanos. Todos seus sentidos ainda traziam consigo as impressões daquele último encontro. Sua cabeça fervia. Seus lábios tremiam. Arrastou-se até o banheiro. Esperava que o fluido gelado que percorria seu corpo carregasse consigo todos os serás, os porquês, os talvez e principalmente os “se tivesse sido diferente”. Esperou ainda algum tempo em frente ao espelho. A cabeça ainda fervia. Deitou-se sorrateiramente na ponta da cama. Inútil, sua companheira percebera:

-Chegaste agora?
-hum.
-Calado, o que tens?
-Nada, sono.

Ela aprendera com os anos, mesmo sem olhar, a distinguir quando ele serrava os olhos para dormir ou se mirava o negrume.

-O que tens?
-Me deixa dormir.
-Fala, faz bem.
-Não é nada, deita e dorme.

Assim, ele prendera em sua garganta mais um punhal que, num dado dia, junto com tantos outros, dilaceraria o peito dela, rasgando sua alma com todas as verdades guardadas, com o peso de todas as coisas não ditas...

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Decepção temperada com bouquet garni

Ele sabia que ela gostava daquele prato exótico. Buscou, revirou, até encontrar uma receita. Não podia ser qualquer uma. Tinha que parecer com aquela que ela apreciava. O mais difícil foi encontrar os ingredientes. Cozinhar, para ele, era uma forma de amar. Ele tentava, por um instante, imaginar sê-la para ter certeza que tudo estaria do seu gosto. Ao final, ele estava certo que ela aprovaria. Quem mais poderia fazer aquilo por ela? Mandou-lhe uma mensagem falando da surpresa que fizera pra ela. Ansioso, esperou uma resposta. Olhava para o prato e a imaginava sorrindo após tê-lo acabado. A resposta não veio. Passou o primeiro dia. O segundo e o terceiro vieram mais demoradamente, porém a resposta não. A resposta nunca viria. Ele via o prato, mas não mais a enxergava. Aquele cheiro lhe dava ânsia de vômito. Quanto aos ingredientes que sobraram? Ah, a geladeira tornara-se um necrotério de legumes podres, seu peito um cemitério de antigos sentimentos bons.

Das coisas que não foram ditas...



Guardo em mim o peso de todas as palavras que não foram ditas. De todas aquelas que não ultrapassaram a barreira dos meus dentes à espera do momento certo para ganhar o mundo. Besteira, não há o momento certo. Há a palavra certa. E eu as tinha. Hoje sofro como querendo que abortar tudo que não te disse. Todas as palavras, hoje, anacrônicas e sem sentido e que me arranham por dentro. O “eu te amo” que não disse quando sorriste pra mim pela última vez. O “te adoro, mesmo me fazendo sofrer” que troquei por um “vai se fuder” nas vezes que brigamos. O “quero ficar contigo pra sempre” que não falei por achar muito piegas. Até mesmo os “porras” e “caralhos” que não ouviste para não te magoar e ainda assim acabaste magoada. Os elogios que não fiz. Os que não ouvi. Os palavrões que não gritei quando gozava. A angústia das perguntas que não foram feitas:

  • Por que ainda estás comigo?

  • Por que perguntaste se ainda ficarias contigo?

  • Tu ainda ficarias comigo?

  • Tu ainda me amas?

  • Por que agora e não depois?

  • O que me escondeste quando disse que não estarias só, que ficaria ao teu lado com ou sem ele?

Hoje, o teu silêncio me doe mais que todas as palavras que guardo. Doe-me principalmente imaginar todas as palavras que não mais serão ditas por ti. Todas as palavras que não serão ditas...