quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Última Conversa

Ele chega, escolhe uma mesa ao fundo, pede uma cerveja e espera. Cinco copos depois, ela chega. Ele enche as taças, brindam e escolhem algo no cardápio. Conversam amenidades como de costume. Ele não sabia como começar. Suas mãos tremiam e seu olhar não se fixava no castanho dos olhos dela como sempre fazia ao escutar suas histórias. Olhou para o mar e, como se não houvesse mais nada no mundo, respirou profundo e disse:
“Desisto de ti.
Passei os últimos dias procurando forças pra te dizer isto. Uma única frase, mas que consome toda minha alma. Busquei, nas noites não dormidas em que passei olhando para o teto e lá te vendo, no fundo de meus desejos a coragem pra te falar. Exausto, morto por dentro, mas a hora inevitável chega.

Amo-te como nunca imaginei ser possível, mas cheguei ao meu limite. Não estou feliz. Não posso ser feliz com o que temos. Cansei de mendigar o teu carinho. Cansei das idas e vindas do teu amor volúvel. Amor de lua, inconstante, incerto e que só me afaga vez ou outra. Arranco de minha carne este desejo absurdo que tenho por ti e que me fez e ainda faz pensar no teu nome todos, absolutamente todos os dias destes muitos anos desde que te conheci. Amputo este amor. Mutilo-me para salvar o que sobra de mim. Tento seguir agarrando-me na esperança de amores possíveis. Amor que não encontro em ti.

Não sei se tenho força para isto, mas não posso mais te ver. Pelo menos não enquanto te desejar tanto. Ajuda-me, não me procure. Aliás, proponho-te um trato – procura-me só quando quiseres ser minha, por meia hora que seja e eu só te procurarei quando não mais desejar sentir teus sabores.”

 Levantou-se, pagou a conta e foi embora. Ela disse algo,acenou timidamente, pegou seu telefone e fez uma ligação de trabalho, talvez a décima do dia. Por fim, retocou a batom e saiu lentamente levando consigo uma expressão de quase indiferença ao que acabara de ouvir.