segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Solidão

O sol que atravessava a fresta da janela projetava uma luz suave sobre a cama desarrumada. Também iluminava o armário quase vazio. Apenas umas duas camisas velhas e uma meia-calça desfiada. Tudo o que restou de ti naquele quarto, além do teu cheiro nos lençóis. Por dias aquele cenário permaneceu inalterado. Só a minha aparência cada vez mais moribunda mudava lentamente o ambiente no qual um dia transbordamos nossas alegrias. A cada dia, passava mais horas deitado na cama por fazer. As lágrimas já haviam varrido o teu cheiro dos tecidos que me cercavam. O mesmo ritual todos os dias: deitar naquela cama, olhar para o armário vazio e principalmente segurar o telefone esperando uma chamada, uma mensagem tua dizendo adeus, já que não o fizeste ao sair. Ao cabo de uma semana, este ritual tornou-se a descrição mais completa do uqe é solidão: o quarto desarrumado, o armário vazio e o telefone que não toca. Sei que ele continuará cruelmente mudo. A perpetuação de minha solidão.

Amor de conveniência

Eles se amaram no passado. Não faz muito tempo, ele resolveu ligar para ela. Um bar, uma cerveja, uma conversa. Ela aceitou, afinal as coisas de antes não foram totalmente apagadas e além do mais, ele trepava muito bem. Os encontros se sucederam, mas cada um cultivando suas liberdades emocionais. De fato, ela tinha outras pessoas. Com algumas ela tinha até amor e um bom sexo, mas não se furtava a manter os encontros quase semanais com a antiga paixão. Ele, do seu lado, já não conseguia imaginar-se sem aqueles encontros. Já não mais era senhor de seus sentimentos e aos poucos o cheiro de sua vagina se tornara uma adicção para ele. A paixão se instalara mais profundamente do que nos tempos de faculdade. Ele estava louco. Já não conseguia se relacionar com nenhuma outra mulher, nem mesmo uma relação vazia de uma, duas semanas. Ela também começava a pensar no encontro dos dois de uma forma mais significativa. Outros parceiros ficavam cada vez mais raros. Ele decidira chamá-la para morar com ele. Antes que ele tivesse chances de fazer esta proposta, ela procurou-lhe para comunicar-lhe algo. Era visível a ansiedade em seu corpo. Apesar disto, ela carregava um sorriso iluminado. Ela estava grávida. Tinha certeza que era dele, afinal, com os demais ela sempre tomava precauções. Ele ficara surpreso com a notícia. Um tanto abalado para ser mais fiel aos fatos. Mesmo diante das certezas que ela apresentava, ele não estava convencido que seria mesmo coparticipante daquela situação. Na cabeça dele, poderia ser de qualquer um. Ainda mais porque ele sabia que pelo menos com um dos outros caras havia sentimento. Seu orgulho de macho fazia com que ele imaginasse aquela criança, que ainda estava por vir, crescendo com os traços que não lembrariam os seus. O que dizer para os amigos? Tomou uma decisão - não mais a convidaria para morar com ele. Em dois meses estava casado. Cinco meses depois saberia que seria pai. Desta vez com toda a certeza que seu orgulho de macho necessitava. Sua antiga paixão pariu sozinha. Não exatamente sozinha, pois uma de suas relações efêmeras, justamente aquela que guardava algum sentimento, durou mais do que o esperado e ele não possuía o mesmo orgulho de macho. Ele decidira ficar ao lado deles. Amor incondicional...

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Dos amores à distância...

Acordei com uma vontade imensa de ti. Vontade grande mesmo, daquelas que nem sabemos direito como é que é. Levantei-me, tomei banho, café da manhã e todo o ritual que me acompanham as horas depois do despertar. Tudo igual a todos os dias, exceto esta vontade louca de ti. Desejo de estar contigo, de fazer coisas simples, de conversar besteiras, de almoçar contigo, de passear, de comprar coisas um pro outro. Sobretudo, desejo de te sentir, de passar meter a mão por debaixo de tua saia e arrancar tua calcinha, de te comer, de percorrer teu corpo com minha língua, de explorar teu sexo, de ouvir teus gemidos, de provar do teu gozo...

Queria te ligar para falar destas vontades e desejos, mas de que adiantaria? Não estarás aqui de noite quando chegar em casa. Não me encontrarás para almoçar. Não vestirás aquela lingerie que te dei. Resta-me agora esperar por tua aparição. Guardarei estes desejos para o dia em que chegarás, abrirás a minha porta e rasgarás de meu peito todas as saudades acumuladas...

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Sonhos

Alguns sonhos são melhores enquanto continuam sonhos. Alguns deles, nem todos, que fique bem claro, ao se realizarem, perdem parte do encanto que tinham quando eram só sonhos. A realidade, às vezes, não acompanha o charme dos sonhos.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Gozaremos eternamente...

"O tempo foi suspenso, claro. Lá não envelhecemos nem morremos. Gozaremos eternamente nessa meia luz de crepúsculo que já estupra a noite, iluminados por uma lua que a nossa embriaguez triplicou" Vargas Llosa

Uma cascata de lembranças se apoderou de todo meu corpo após ler esta frase. Certas frases que lemos ou ouvimos nos transporta para um momento de um tempo passado que ainda está atado em nossas entranhas, o que faz deste tempo passado um pouco do presente, contrariando, ou não, os percursos das linhas do espaço-tempo. E é com todo meu corpo que me lembro de alguns destes retalhos do passado. Às vezes até uso estes retalhos para remendar algumas das feridas de minha alma.

Gosto de me lembrar dos gozos que desejei que fossem eternos e que se mostraram tão efêmeros. Depois, sempre vinha outro gozo que me despertava os mesmos desejos de eternidade. Esta sucessão de gozos e de desejo de suas eternidades me faz feliz. Cada um com sua idiossincrasia, o que faz de todos especiais. Das muitas possibilidades que houveram, que hão e que haverão. Que após o próximo, haverá outros...