quarta-feira, 28 de abril de 2010

Cansado

Hoje acordei com uma certa dificuldade, uma sonolência típica dos dias quentes - mas não fazia calor. Uma letargia de quem perdeu o prumo, o rumo, a vontade de seguir em frente. Dei-me conta de que estou cansado. Cansado de muitas coisas, de tuas coisas, de coisas que já foram nossas. Cansado de amores difíceis, impossíveis ou improváveis. Cansado de te buscar em todos os cantos. Cansado de mendigar tua atenção. Cansado de tentar te sentir nas bocas que mordo. Enfim … cansado.

O chão frio na sola dos pés, a luz fria que entra pelo buraco na cortina, a monotonia dos sons da rua, tudo isto me empurra de volta pra cama, mas pra lá não quero voltar - os lençóis ainda trazem teu cheiro. Isto me assusta. Acendo um cigarro. Não, eu não fumo, mas na ausência de incenso, uso a fumaça impregnada de nicotina para depurar o ar, para limpá-lo de tua presença. A dose de tequila misturada com café ajuda a despertar meus sentidos. Percorro as mãos pelos bolsos. Moedas, pedaços de papel, embalagem de bombom, tudo ao chão. Roupa ao sexto. Sigo nu a dar voltas pela sala. O carpete azul desbotado ainda guarda alguns fios do cabelo castanho, levemente encaracolado. Alguns deles colam no meu pé. O número da diarista sempre desaparece quando preciso.

A primeira dose do dia é seguida de tantas outras. Tequila, cachaça, rum, uísque, vinho, todas as garrafas e todas as cores são vertidas. Todas, menos uma. Quero outra cor que não lembre o teu olhar. Assim, crio meu Citotec etílico e te aborto aos poucos em tons esverdeados na latrina que a muito não é lavada.

Cansado de te esperar sozinho no quarto. Cansado de ser só. Cansado de ser só teu. Cansado, apenas.

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