quinta-feira, 23 de julho de 2009

Oportunidades perdidas

Ele andava apressado por entre olhares que não se cruzavam. A solidão das ruas repletas. Os minutos comandavam o ritmo de seus passos e de seus pensamentos. Os primeiros pingos na camisa de algodão rapidamente tocaram suas costas. Os passos se tornaram mais rápidos até que encontrou uma marquise como abrigo. Outras pessoas fizeram o mesmo. Corpos espremidos à espera de retomarem suas vidas. Enquanto muitos olhavam os elementos, ele resolvera olhar as pessoas. Um frio lhe tomou o corpo e não fora por conta do vento ou dos pingos que desafiavam aquele abrigo. Apesar dos cabelos de cor e formato diferentes, ele saberia reconhecer aqueles olhos castanhos em qualquer circunstância. Deslizou entre as pessoas até ficar frente a ela. A surpresa era evidente nos olhos de ambos. Por longos segundos, nada disseram, só se olharam. Um incômodo tomou conta deles. Muitas coisas poderiam ser ditas, mas não sabiam como. Começaram a falar de coisas triviais: “o que andas fazendo?”, “que idade tem teus filhos?”, “tem notícias de fulano?”... Nada disto, na verdade, lhes importava. Só os traços dos sentimentos abafados é que teriam relevância naquele momento. Mas a cada tentativa de tocar neste assunto, o ar lhes faltava aos pulmões. O sangue interrompia seu fluxo.

Os pingos se tornavam poucos. A multidão se dispersava. Ele fez um esforço derradeiro:
- Quem sabe se nós...?
- Não, melhor não.
- Tens razão, melhor não.
Ele a beijou no rosto. Seus lábios percorreram sua pele molhada. Quando sua boca procurou a dela, ela não a negou. Fechou os olhos e retribuiu o beijo. Encorajado, ele apertou seus lábios contra os dela até que ela abrisse sua boca deixando entrar sua língua. Percorreu cada canto da boca como querendo matar a saudade de um lugar que há muito não visitava. Num surto de culpa, ela o empurra, diz adeus e se vai. Cada um para seu lado. Cada um achando que tudo poderia ter sido diferente.

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