terça-feira, 14 de julho de 2009

Viver do passado.

Aquela dor lhe consumia as vísceras dia após dia. Todos os unguentos que tentasse de nada lhe serviam. Já tentara abortar aquele corpo estranho que se remoía dentro de si, mas suas forças não lhe eram suficientes. Só os copos de vinho e de martini acalmavam-lhe o sofrimento. E eles não eram poucos. Seu corpo já demonstrava os efeitos colaterais desses remédios tomados em excesso. Faltava-lhe a coragem e a vontade de se curar. Na verdade, ela negava-se a abdicar desta paixão. Pelo contrário, ela a alimentava com os pratos menos sofisticados recheados das mentiras mais triviais e com as ilusões mais toscas.

Vários eram os dias em que ela passava por certos bares. Não eram bares quaisquer, eram aqueles que ela sabia que ele os frequentava. Ás vezes, se não o achasse em um, fazia uma ronda por todos os outros próximos. Só voltava pra casa quando tinha certeza de que ele não estava naquela região, mas não sem antes tomar suas taças de vinho e fumar seu marlboro, seus analgésicos para a alma. Nas vezes em que o encontrava em um bar, tentava chamar sua atenção passando defronte dele. Inicialmente fingia ignorá-lo, mas como ele, de fato, a ignorava, ela tentava de novo, desta vez buscando seus olhos. No máximo um aceno de mão. Tentava sentar numa mesa próxima. Ouvir sua voz já lhe trazia lembranças do que foram e as possibilidades que só havia na sua mente lhe enchiam de esperança. Bastava algum conhecido em comum sentar-se junto a ele. Era o bastante para que ela se aproximasse, buscasse assunto com o conhecido enquanto esperava ser convidada para sentar. O convite nunca vinha. Este processo autodestrutivo continuava por meses. Seus telefonemas, ele nem mais os atendia. O fundo do poço parecia não ter fim. Os únicos momentos de prazer eram quando ela regatava as coisas boas que haviam passado e que, agora, só ela lembrava. Sabia que não podia seguir assim, mas fazer o que se seu coração não se abria para outras possibilidades? E assim foi, com doses cada vez mais altas de seus analgésicos para a alma. Assim foi até a última gota de amor próprio secar, até o esquecimento de si mesma.

2 comentários:

  1. O passado é isso mesmo... não nos sai da cabeça... e gostaríamos de encontrar todos os antigos amores para lhes explicar porque não fomos melhores, e gostávamos de viver os amores que não quisemos viver para saber se teríamos hoje uma vida melhor e mais feliz com essas pessoas...

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  2. O problema do passado é qnd ele não nos deixa viver o presente. Mas gosto de me lembrar das coisas boas q vivi e das que poderia ter vivido

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